Uma nova perspectiva na Educação com Professoras Negras e Mulheres Cabo-verdianas

Uma nova perspectiva na Educação com Professoras Negras e Mulheres Cabo-verdianas

O livro “Espelhamento narrativo e circulação de afetos na cozinha: Um modo de cosmo-sentirpensar e fazer educação com professoras negras brasileiras e mulheres cabo-verdianas”, de Maicelma Maia Souza, oferece uma abordagem inovadora e sensível para a pesquisa em educação. Ele nos transporta para um ambiente acolhedor e cheio de significados: a cozinha. Neste espaço, entre aromas de café recém-passado e o cheiro de comida caseira, surgem narrativas poderosas e reflexões profundas sobre a educação e a existência de mulheres negras e cabo-verdianas.

 

Maicelma Maia Souza utiliza a cozinha e a culinária como ferramentas metodológicas, criando um cenário onde as histórias de vida são compartilhadas enquanto as refeições são preparadas. A autora nos convida a imaginar o aroma do café, o sabor dos pratos típicos e a sensação de estar ao redor de uma mesa farta, onde afetos circulam e se entrelaçam com palavras. Este espaço íntimo, tradicionalmente associado a mulheres, torna-se um local de resistência, criação e transformação.

 

Uma revolução epistemológica e metodológica

A professora Anete Abramowicz, que escreve o prefácio do livro, ressalta que a obra de Maicelma Maia Souza provoca uma verdadeira "reviravolta epistemológica e metodológica". A autora não apenas desafia as convenções acadêmicas, mas também estabelece uma nova forma de se conectar com o conhecimento. Ao incorporar o olfato e o paladar, dimensões sensoriais frequentemente negligenciadas na pesquisa, Maicelma oferece uma leitura que envolve o corpo e os sentidos, rompendo com as abordagens tradicionais de produção e consumo do conhecimento. Essa abordagem cria um circuito de afetos que transcende as normas coloniais de pesquisa e pensamento, gerando novas formas de existência e conexão.

 

A Encruzilhada como Epistemologia

Segundo Abramowicz, a obra fundamenta-se na "epistemologia da encruzilhada", um conceito que remete a uma interseção de múltiplos caminhos, inspirada nos estudos sobre o orixá Exu e nas reflexões de pensadores como Frantz Fanon. Nesse contexto, Maicelma Maia Souza constrói uma narrativa que desafia as normas coloniais e patriarcais de conhecimento, as quais tradicionalmente excluem ou subalternizam corpos e histórias. O livro não se limita a resistir a essas normas, mas propõe criar algo totalmente novo a partir delas.

 

Cozinhar como Ato de Transformação

No livro, a cozinha é apresentada como um espaço onde as histórias de vida das professoras negras brasileiras e das mulheres cabo-verdianas se misturam com ingredientes, aromas e sabores, criando novas formas de afeto e percepção. Maicelma Maia Souza revela que o ato de cozinhar vai além da mera preparação de alimentos; ele se transforma em um processo de cura, transformação e resistência. Ao trazer para a cozinha as histórias de dor e superação, a autora refaz e reinterpreta essas narrativas, utilizando ingredientes que historicamente simbolizaram dor e opressão para criar algo novo, vital e afirmativo.

 

Uma obra anticolonial

Espelhamento narrativo e circulação de afetos na cozinha é uma obra profundamente anticolonial, que busca desconstruir as narrativas impostas pela colonialidade e pelo racismo. O livro propõe um novo olhar para a educação, considerando a totalidade do ser humano, suas emoções, afetos, dores e alegrias. Utilizando a cozinha como um espaço de poder e transformação, a obra nos convida a refletir sobre o papel da mulher negra na sociedade.

 

Em última análise, a obra de Maicelma Maia Souza nos chama a ocupar um lugar à mesa, a sentir os cheiros e sabores dessa experiência única, e a nos deixar afetar por novas formas de conhecimento e existência. Ao destacar a importância das narrativas e das experiências sensoriais na educação, a autora oferece uma maneira inovadora de pensar e praticar a educação, baseada na valorização das vozes silenciadas e na criação de novos caminhos de resistência e transformação.

 

Esta leitura nos inspira a puxar uma cadeira, pegar um café ou chá, e nos envolver pelas histórias e receitas compartilhadas, apreciando cada palavra e cada aroma que emerge das páginas deste livro extraordinário. Confira este e outros títulos em nosso site: www.editoracrv.com.br

 

 

MAICELMA MAIA SOUZA
MAICELMA MAIA SOUZA

É baiana, residente em Amargosa-BA. Filha do meio da professora Rosa Maria e do carteiro Anselmo, tia de Míria Halili. É Doutora e Mestra em Educação, Psicopedagoga e Pedagoga. Foi Coordenadora Pedagógica por 8 anos em Ipiaú-BA. Atualmente, é Professora Adjunta da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia/CFP, onde coordena o Programa de Extensão CAfUNé - Cozinha dos Afetos para Universidade Negra. É autora do livro "Projetos Pedagógicos na Escola e Relações Étnico-Raciais: o que dizem as experiências de professoras". Faz leitura e interpretação de sonhos. É amante da meditação, amadora no slackline, cosmo-sente a água como extensão do corpo e não dispensa uma xícara de café com um pedaço de bolo de aipim ou com um cuscuz com queijo e ovo. Concentra seus estudos na área de Currículo, Didática, Relações Étnico-Raciais, Ancestralidade, Epistemologias Afrodiaspóricas e Circulação de Afetos. Integra a Rede Afroquilomba e profere palestras em Jornadas Pedagógicas e demais eventos na área da Educação.

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